Lesões Cáusticas do Tubo Digestivo Superior em Crianças. Experiência de 8 anos do HGSA
DOI:
https://doi.org/10.25754/pjp.1998.5565Keywords:
Ingestão Cáusticos, Pediatria, CasuísticaAbstract
A ingestão acidental de produtos cáusticos pelas crianças continua a ser um problema actual. Com o objectivo de conhecer a panorâmica dos últimos 8 anos, no Hospital Geral de Santo António (HGSA), os autores fizeram a revisão dos processos clínicos referentes às 88 crianças que deram entrada no Serviço de Urgência deste hospital, de Janeiro de 1988 a Dezembro de 1995, por ingestão de cáusticos e que motivou a realização de Endoscopia Digestiva Alta (EDA).
Observou-se uma maior incidência no sexo masculino (59,1%), e no grupo etário abaixo dos 4 anos de idade (75%). Constatou-se uma maior ingestão nos meses de Abril e Maio (28,4%). Os produtos mais frequentemente ingeridos foram os alcalinos (67%), sendo o hipoclorito de sódio — «lixívia» (29,5%), e o hidróxido de sódio — «soda cáustica» (28,4%), os mais envolvidos.
Havia referência, em 45 crianças (51,1%), à observação da boca/orofaringe, das quais 60% apresentavam lesões. Em 2 crianças, com 15 anos, foram encontradas lesões endoscópicas na ausência de queimaduras orofaríngeas, embora, nos doentes com idade menor ou igual a 10 anos, não foram encontradas lesões endoscópicas na sua ausência. Dos doentes observados entre 1993-1995, todos realizaram EDA até 48 horas após a ingestão do cáustico; 95,4% realizaram-na nas primeiras 24 horas.
A EDA foi normal em 59% dos casos. Constatou-se que quanto mais graves as lesões endoscópicas, pior o prognóstico para os doentes, não se observando complicações com esofagite de grau inferior a 2a. Tanto os alcalinos como os ácidos provocaram lesões esofágicas e/ou gástricas.
Os autores terminam salientando o papel do pediatra/médico assistente a nível da prevenção, dado que a ingestão de cáusticos pode apresentar morbilidade significativa e pode ser causa de morte.