Evolução do Internamento de Adolescentes no Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria
DOI:
https://doi.org/10.25754/pjp.2003.5119Keywords:
Adolescentes, InternamentoAbstract
Os adolescentes têm necessidades e problemas específicos que necessitam de uma abordagem distinta da efectuada na criança e no adulto. Entre nós, verifica-se já um consenso generalizado no que diz respeito à necessidade da existência de Consultas de Adolescentes ligadas ao ambulatório dos Serviços de Pediatria. Não parece haver ainda, no entanto, acordo sobre a vantagem de Unidades de Internamento de Adolescentes.
Objectivos: Caracterizar, através de um estudo retrospectivo e descritivo, a população de adolescentes internados nas várias Unidades do Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria e detalhar as suas variações ao longo de um período de seis anos de internamento.
Determinar o peso que a faixa etária da adolescência (considerada dos 10 ao final dos 18 anos) tem no internamento do Serviço Pediatria e no Hospital e qual a sua evolução ao longo dos últimos anos.
Material e Métodos: Foram analisados os registos de internamento em cada uma das Unidades do Serviço de Pediatria entre os anos de 1994 e 1999.
Incluímos todos os indivíduos com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos e 364 dias, definindo dois grupos etários: dos 10 aos 13 e dos 14 aos 18 anos. Caracterizou-se a população em termos de sexo, idade e Unidade de Internamento, e estudamos a evolução destas variáveis ao longo desse período.
Resultados: Verificamos que ao longo do período estudado, aumentou paulatinamente, não só o número absoluto de adolescentes internados (de 436 em 1994 para 717 em 1999), como a sua proporção relativamente ao total de internamentos no Serviço de Pediatria do H.S.M. (de 15,5% em 1994 para 21,5% em 1999).
Os adolescentes internados foram maioritariamente do sexo masculino e do grupo etário entre os 10 e os 13 anos, mas o maior aumento ao longo do período estudado deveu-se ao grupo etário entre os 14 e os 18 anos.
A percentagem de adolescentes internados nos outros serviços do Hospital de Santa Maria diminuiu gradualmente, verificando-se assim também o aumento relativo da participação do Serviço de Pediatria no internamento de adolescentes ao longo destes anos.
Discussão: O grupo etário da adolescência tem sido responsável por um número crescente de internamentos no Serviço de Pediatria, fundamentalmente devido a uma proporção cada vez maior do número total de internamentos. Tem havido, nomeadamente, um aumento notável do número de internamentos dos adolescentes mais velhos.
Demonstrada a importância do peso relativo do internamento de adolescentes num Hospital Central, a análise destes dados, torna pertinentes duas questões que pensamos constituírem excelente material para estudos futuros. A primeira prende-se com o motivo que leva a um tão notório aumento do grupo etário mais velho de adolescentes no internamento. Dever-se-á apenas a uma maior longevidade que a medicina moderna tem permitido aos doentes com patologia crónica?
Uma segunda questão, igualmente pertinente, diz respeito à adequação dos actuais serviços hospitalares — pediátricos ou não — ao internamento destes doentes. Será que estes internamentos se processam nas melhores condições, em espaços físicos adequados, sentindo-se os médicos e enfermeiros aptos a dar resposta às principais questões com que se vêem confrontados no decurso do internamento de um adolescente?