O Futuro da Pediatria

Authors

  • João Gomes-Pedro

DOI:

https://doi.org/10.25754/pjp.2004.5015

Keywords:

ediatria, Futuro, Modelos, Educação Médica, Saúde, Cultura

Abstract

O sentimento devotado à Criança, o propósito de intervir a seufavor, a vontade de exercer uma missão servindo os seus direitos eos seus interesses, o agir prevenindo e tratando as doenças, as disfunçõese os desajustes, a intenção de bem-educar e de orientarvocações, o desejo de adequar os bons genes ao bom ambiente, tudoisto tendo em conta a família a que cada criança pertence, no respeitopelos vínculos, determinantes da identidade e do destino de cadabebé, tudo isto, dizemos, representa o que nos guia quando pensamose preparamos o futuro da Pediatria.Reflectir no futuro da Pediatria é algo que fazemos desde hácerca de vinte e cinco anos num percurso profissional e científicoque julgo reconhecer-se na mudança que sempre quisemos quetivesse expressão clínica e social.Creio que tanto as origens da Pediatria como o seu futuro têmou terão profundas inspirações em ciências e fenomenologias exterioresà Medicina.A Pediatria é e será, cada vez mais, uma ciência de complementos,se quiserem, uma Ciência da explicação do Homem.Nesta conceptualização de complementaridade prevemos que aPediatria do Futuro seja influenciada por modelos hoje com sustentaçãocientífica inequívoca e que contêm uma inspiração filosóficapotencialmente influente na arte da clínica identificada com a intervençãopediátrica.Três séculos depois de Rousseau, são outra vez as CiênciasHumanas, diríamos, exteriores à Medicina, que influenciam, a meuver, a prática Pediátrica tornando-se intrínsecas à sua práxis.Em função da sua história, da sua identidade e, sobretudo, dasua natureza, a Pediatria definir-se-á em função de três dimensõesnecessariamente complementares, porém distintas, em termosmetodológicos e filosóficos.A primeira dimensão é, afinal, a continuidade do que, propriamente,inspirou os primórdios da ciência da criança; refiro-me à psicologia do desenvolvimento que explica as emoções, os sentimentos, a consciência, a memória, enfim, a dinâmica do ciclo de vida em função das várias fases evolutivas, em função dos sistemas interioresdo bebé, da criança e do jovem e em função dos seus sistemas exteriores ou seja das circunstâncias de cada criança e de cada jovem.Nesta dimensão, a Biologia molecular, a Neurociência e a Psicologia dão as mãos para corresponder aos desafios que se colocam aos profissionais devotados ao bem estar infantil.Esta dimensão que hoje consideramos como uma evidência pediátrica indiscutível abrange hoje uma vastíssima rede científica da qual iremos abordar duas áreas que são inovadoras no contexto pediátrico, designadamente no que respeita às circunstâncias da criança.São elas a circunstância ambiental e a circunstância familiar.A segunda dimensão é a que consta ainda, com predominância, do currículo da Educação Médica Pediátrica.Diz ela respeito à Pediatria assistencial, necessariamente clínica e inequivocamente ligada à ciência médica tradicional, porém actualizada nas projecções mais significativas da evidência científica resultante da investigação biomédica de ponta.Referirmos-emos tão só a uma selecção de pontos de referência citados pelos coordenadores seniores das áreas críticas assistenciais do nosso Serviço.A terceira dimensão que identificamos também como Pediátrica, diz respeito às valências morais, éticas e educacionais de toda a Ciência Pediátrica que inspiram a prática clínica.Entre as muitas áreas que esta dimensão integra, segundo a nossa leitura epistemológica, reteremos a do desenvolvimento moral directamente reportada a uma prioridade pediátrica de hoje que é a prevenção da violência, a dos novos direitos da criança e a da valência educacional naturalmente circunscrita às responsabilidades actuais da Educação Médica Pediátrica.Para nós, a Pediatria do futuro englobará todas estas dimensões, todas estas áreas, privilegiando, todavia, as que definirão a criança em função da sua natureza, dos seus direitos e do seu destino.Neste contexto, fantasiamos e préconfiguramos a criança como fundamento decisivo para o destino do Homem, alvo prioritário de intervenção para a coerência tanto individual como social, determinante natural e paradigmático da harmonia moral na vida de relação que pressupõe um sentido de pertença, um direito à felicidade e um ideário de transcendência.São múltiplos os pressupostos científicos deste primado de Esperança que se identifica com o Bebé enquanto projecto de vida para si próprio e para uma família que o acolhe numa teia de vínculos preferenciais e para uma sociedade que tem de se rever e agir quando das origens do desenvolvimento, isto é, quando se efine o carácter, a competência, o respeito, o altruísmo, a resiliência, enfim, o destino de uma coerência, necessariamente partilhada.O futuro da Pediatria é o futuro da criança.O futuro da Criança, porém, depende do futuro da Educação dos professores, dos técnicos e dos cidadãos, supostamente humanizados.

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