Hipotermia induzida na encefalopatia hipóxico-isquémica: experiência do Serviço de Neonatologia do Hospital de Santa Maria
DOI:
https://doi.org/10.25754/pjp.2012.236Abstract
RESUMO
Introdução
A hipotermia é uma técnica segura e eficaz na redução do risco de morte ou sequelas em recém-nascidos de termo com encefalopatia hipoxico-isquémica (EHI), sendo neste momento considerada standard of care nos países desenvolvidos. Consiste na redução da temperatura corporal para 33-34ºC durante 72 horas, seguido de reaquecimento progressivo. Os mecanismos envolvidos são a diminuição do metabolismo cerebral, do edema cerebral citotóxico, da pressão intracraniana e inibição da apoptose. Apresentamos a casuística dos primeiros 18 meses de experiência do Serviço de Neonatologia do Hospital de Santa Maria.
Métodos
Os dados foram colhidos de forma prospectiva através do preenchimento de uma base de dados de registo local. Incluímos os doentes admitidos entre Janeiro de 2010 e Junho de 2011.
Descrição dos casos
Foram admitidos 29 recém-nascidos oriundos de todo o território continental português (10 da Região Norte, 18 de Lisboa e Vale do Tejo, 1 do Algarve) com idade gestacional mediana de 39 semanas. Predominou o parto distócico e foi identificado um evento agudo intra-parto em onze RN (cinco descolamentos da placenta, três distócias de ombros, duas roturas uterinas e uma transfusão feto-materna). Todos necessitaram de reanimação avançada e apresentaram acidose metabólica grave na primeira hora de vida. Na admissão, catorze tinham encefalopatia grave, nove moderada e seis ligeira. A hipotermia passiva iniciou-se no hospital de origem antes das três horas de vida e a hipotermia activa na UCIN do HSM, entre uma e onze horas (mediana de seis horas). A temperatura central mediana na admissão foi de 34ºC (28.6-36ºC).
Durante o tratamento todos os RN estiveram monitorizados com electroencefalograma de amplitude integrada (aEEG), sedados e com suporte ventilatório. As convulsões ocorreram em 22 RN (76%), hipotensão arterial em 21 (72%) e insuficiência renal aguda em nove (31%). O reaquecimento demorou 12 a 40 horas (mediana 24 horas) com complicações em quatro RN (convulsões e/ou hipotensão).
O prognóstico baseado na evolução clínica, na monitorização com aEEG e na ressonância magnética cranio-encefálica (RM-CE), foi considerado favorável em oito RN (28%), intermédio em quatro (14%) e adverso em doze casos (42%). Cinco RN faleceram (17%), dos quais dois durante o tratamento.
Conclusões
A implementação do programa de hipotermia na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) do Serviço de Neonatologia do Hospital de Santa Maria (HSM) em Janeiro de 2010 permitiu o acesso dos RN portugueses à única terapêutica eficaz na EHI. Apesar de alguns RN terem nascido a grande distância de Lisboa, foi possível iniciar a hipotermia dentro da janela terapêutica em todos.