Quando a esponja apetece… um caso de pica

Authors

  • Marta João Silva
  • Felisbela Rocha
  • Ana Corina Rodrigues
  • Maria do Céu Ribeiro
  • Sónia Carvalho
  • Paula Fonseca
  • Fernanda Carvalho
  • Maria Teresa Graça

DOI:

https://doi.org/10.25754/pjp.2006.4762

Abstract

Introdução: Apica define-se como uma perturbação do comportamento alimentar cuja característica essencial é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas por um período de pelo menos um mês.

Caso Clínico: Criança do sexo masculino de 5 anos de idade com história de ingestão de esponja sintética (forro de cadeiras, colchões, bases de arranjos florais,..) desde há 8 meses. Internado por suspeita de bezoar, devido ao aparecimento de vómitos matinais com pedaços de esponja e abdominalgias, com 15 dias de evolução. Referia gostar do sabor da esponja. Apresentava atraso da linguagem e palidez cutânea e das mucosas, com anemia ferropénica  na avaliação analítica. Não foram detectados quaisquer sinais que evidenciassem a presença de psicopatologia grave apresentando, no entanto, baixa autonomia e alguns comportamentos regressivos. Com a terapêutica com ferro e orientação por pedopsiquiatria verificou-se o desaparecimento deste comportamento.

Discussão: Apica é multifactorial, associa-se a défices nutricionais, como o ferro, a factores psicossociais, como o atraso do desenvolvimento e a falta de estímulo ou desorganização familiar e a factores sensoriais, como o gosto pelo sabor e textura da substância ingerida. O bezoar é uma complicação rara que deve ser sempre excluída.

Conclusão: O diagnóstico de pica é difícil na ausência de complicações que a sinalizem e requer um elevado índice de suspeição. A abordagem tem de ser estruturada e multidisciplinar e abranger todos os factores intervenientes e possíveis complicações. Uma avaliação analítica e psicológica deve ser efectuada em todos os casos.

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