Rickettsiose – uma forma de apresentação atípica
DOI:
https://doi.org/10.25754/pjp.2013.2608Abstract
Um adolescente de onze anos, residente em meio urbano e sem antecedentes relevantes, foi internado ao quinto dia de febre persistente, com uma lesão necrótica no cotovelo esquerdo não exsudativa, indolor, de 6x1,5x0,2cm, com sinais inflamatórios peri-lesionais, linfangite na face interna do braço e adenomegalia axilar ipsilateral dolorosa (Figura 1). Ao sétimo dia de doença surgiu exantema papulo-vesicular (Figura 2) generalizado com atingimento palmo-plantar.
Apresentava elevação das transaminases (AST 407 U/L e ALT 276U/L), sem parâmetros indirectos de infecção bacteriana. A serologia para rickettsia (por imunofluorescência) foi positiva (IgM 1/32), registando-se duas semanas depois elevação dos títulos de IgM (≥1/128) e positivação de IgG (≥1/256). Não houve possibilidade de identificação da espécie. Instituiu-se terapêutica com flucloxacilina e azitromicina com boa evolução clínica, sendo estabelecido o diagnóstico de rickettsiose.
Em Portugal, as rickettsias do grupo das febres exantemáticas incluem a R.conorii (febre escaro-nodular) e a R.sibirica. Outras rickettsias patogénicas foram identificadas em vectores. Salientam-se, neste caso, manifestações pouco frequentes de febre escaro-nodular: escara de grandes dimensões, linfangite e exantema papulo-vesicular; características descritas noutras rickettsioses, nomeadamente R. sibirica (linfangite), R. akari (exantema papulo-vesicular) e R. africae (linfadenopatia dolorosa e exantema vesicular). Este caso, apesar da ausência de diagnóstico etiológico específico, permite-nos alertar para a existência de formas atípicas de rickettsiose em Portugal.