A Propósito da Metodologia de Abordagem dos Casos Clínicos — Quo Vadis Pediatria?

Abstract

A aquisição de competências em prática clínica faz parte integrante do processo básico de educação médica.

O objectivo deste artigo, baseado na experiência do autor, é analisar e discutir sucintamente algumas tendências actuais manifestadas pelos internos durante o período de estágio, as quais, contrariando determinados princípios clássicos da abordagem de casos clínicos segundo a tradição Hipocrática (em crescendo, na base duma sequência lógica: anamnese, exame físico, hipóteses de diagnóstico, exames complementares fundamentados, diagnóstico definitivo, actuação incluindo terapêutica e prognóstico), poderão corresponder a erros metodológicos. Com efeito, todos estes passos deverão ser contemplados, sem hiatos.

Os cenários traçados dizem respeito, essencialmente, às tendências de omissão, quer dos registos quanto à formulação das hipóteses de diagnóstico, quer de certos passos fundamentais do exame objectivo em moldes clássicos dando supremacia aos dados fornecidos por exames complementares sofisticados.
Admite o autor que tais tendências estejam relacionadas com a deficiente preparação durante o ensino pré-graduado, com a abolição da prova clínica de praticamente todos os concursos para progressão nas carreiras (condicionando menor investimento na formação nesta área) e com o desenvolvimento da tecnologia que, pelo manancial de dados proporcionados, leva o clínico a menosprezar os dados obtidos através da semiologia clínica clássica.

Chamando-se a atenção para a responsabilidade ética e legal do médico na elaboração de registos rigorosos, o que facilita a comunicação, é descrita sucintamente uma das diversas estratégias de abordagem dos casos clínicos, orientada por problemas (a designada pela sigla SOAP) aplicável no quotidiano do treino clínico; efectivamente, tal estratégia poderá contribuir para a aquisição de competências na elaboração do relatório clínico global e convencional.