Muito baixo peso e restrição de crescimento intra-uterino – uma associação de mau prognóstico?
DOI:
https://doi.org/10.25754/pjp.2014.3049Abstract
Introdução: A restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) é descrita como fator de morbilidade nos recém-nascidos (RN) pré-termo, no período neonatal e a longo prazo. Usa-se frequentemente como equivalente o conceito de leve para idade gestacional (LIG).
Material e Métodos: Foi avaliada morbilidade precoce, crescimento e desenvolvimento de RN de muito baixo peso (MBP) LIG nascidos na Maternidade Júlio Dinis de 2003 a 2009, comparando com RN nascidos no mesmo período, com a mesma idade gestacional e peso adequado (AIG).
Resultados: Nasceram 114 RN MBP LIG, com mediana de 32 semanas de gestação e 1000g de peso, registando-se 7 óbitos. Comparando com os AIG, não houve diferença nos fatores de risco avaliados, variáveis socioculturais, e necessidade de reanimação. Nos LIG a incidência de trombocitopenia e anemia e a duração do internamento foram maiores, não havendo diferença significativa noutras morbilidades. Não houve diferença na necessidade de ventilação invasiva, mas constatou-se maior duração nos LIG.
Avaliação do crescimento e desenvolvimento aos dois anos foi possível em 87 RN LIG.
Paralisia cerebral foi mais prevalente nos AIG. A avaliação de desenvolvimento segundo Mary-Sheridan foi semelhante, tendo AIG pior desempenho na motricidade global. Na avaliação de Ruth Griffiths LIG obtiveram quocientes inferiores, com significância estatística na motricidade fina, não havendo no entanto diferenças a nível do quociente geral. Menor escolaridade materna associou-se a pior linguagem e raciocínio prático. Os resultados não apresentaram relação com tipo de RCIU e frequência de infantário.
Metade dos LIG manteve um peso inferior ao percentil 10, sem associação com pior desenvolvimento.
Discussão: A morbilidade neonatal foi superior nos LIG. Apesar da maior prevalência de paralisia cerebral nos AIG, globalmente o desenvolvimento psicomotor é ligeiramente pior nos LIG, sobretudo na motricidade fina. Crianças com RCIU devem ter seguimento regular que permita diagnóstico e intervenção precoce perante alterações do neurodesenvolvimento.