Ingestão de cáusticos – caracterização e factores preditivos de complicações
DOI:
https://doi.org/10.25754/pjp.2014.2933Abstract
Introdução: A ingestão de cáusticos, de forma acidental ou voluntária mantém-se um problema actual em pediatria, podendo ocasionar morbilidade significativa a curto e longo prazo.
Objectivos: caracterizar os casos de ingestão de cáusticos em idade pediátrica que realizaram Endoscopia Digestiva Alta (EDA) e determinar factores preditivos de complicações.
Material e Métodos: Estudo observacional, analítico e de coorte das crianças que realizaram EDA por ingestão de cáusticos, num Hospital Central (2005-2013), avaliando dados sociodemográficos, caracterização do evento e dados clínicos.
Resultados: Amostra de 210 crianças, 64,8% do sexo masculino, 89% com idade inferior a 6 anos. A ingestão do cáustico foi predominantemente acidental. Os eventos ocorreram no domicílio em 151 crianças, e o produto encontrava-se fora da embalagem original em 56 casos. Os produtos mais frequentemente ingeridos foram os detergentes e a soda cáustica.
A sialorreia foi o sinal predominante (35,6%). Ingestão de água ou leite foram atitudes usuais efectuadas pelos cuidadores. A administração de corticóide ocorreu em 46,6% das crianças. Apresentavam esofagite 30,0%. A estenose esofágica ocorreu em 12 casos, com necessidade de dilatação em 9. Três casos necessitaram de cirurgia. Foram preditores de esofagite a sialorreia, queimadura da orofaringe e os vómitos. Não se constataram preditores de estenose.
Discussão e Conclusão:
Não encontramos nenhum índice clínico preditivo de ocorrência de estenose, embora a ocorrência de esofagite pareça associar-se a alguns sintomas.
Seria interessante realizar um estudo randomizado para avaliar os efeitos da terapêutica com corticóides, visto a sua utilização permanecer controversa na prevenção da ocorrência de estenose esofágica.